O Cristo Redentor, envolto em um manto de gelo holográfico, estendia os braços sobre a frenética multidão que se aglomerava na praia de Copacabana. Era janeiro de 2048, e o Rio de Janeiro, em um feito de engenharia climática e projeção holográfica, transformava-se na sede das Olimpíadas Invernais. Um pantheon gelado erguido sobre a areia escaldante, onde atletas de todo o mundo, munidos de salvo-condutos papais, competiam em provas surreais de esqui, patinação e snowboard.
A euforia do evento, no entanto, não ofuscava a sombra da ausência. O desaparecimento de Isabela, a Papisa Pretoria I, três anos antes, continuava a assombrar a população carioca e brasileira. A nave Elohim, o sumiço repentino, as teorias da conspiração – tudo contribuía para um clima de incerteza e descontentamento. O Brasil se sentia órfão, desprovido de sua líder espiritual.
O General Lullus, figura paterna de Isabela e comandante dos Pretorianos, assumiu a representação da Ámeris na cerimônia de abertura. Seu discurso sóbrio e contido, conclamando à união e à superação, não acalmou os ânimos da população, que clamava pelo retorno da Papisa. A tensão se intensificava nas provas de esqui. Brasileiros e portugueses, rivais históricos, disputavam cada descida com ferocidade, enquanto obstáculos holográficos surgiam e desapareciam na neve artificial, testando os limites da habilidade e da coragem dos atletas. A cada manobra arriscada, a cada ultrapassagem polêmica, a torcida brasileira explodia em uma mistura de entusiasmo e ressentimento, canalizando sua frustração pela ausência de Isabela na rivalidade esportiva.
As Olimpíadas Invernais de 2048, um espetáculo tecnológico grandioso, revelavam as cicatrizes invisíveis de um país dividido entre a nostalgia do passado e a incerteza do futuro. A ausência de Isabela ecoava na frieza artificial da neve carioca, um lembrete constante de que a busca por identidade e liderança continuava a assombrar o Brasil.
